Nós acabamos indo com uma certa frequência pro Brasil, já que o marido trabalha em companhia aérea e o preço é super em conta pra nós e de vez em quando ele precisa ir a trabalho.
Mas mesmo assim, quando vou para lá, me vejo totalmente desabituada de um monte de coisas, que para mim hoje é um pouco estranho. Coisa tão boba, mas pensar que antes nada disso me causava estranheza! Por exemplo, chegar em SP. Saímos de um voo diurno lá de Zürich, um céu lindo e maravilhoso e com vista dos alpes na decolagem. No pouso em SP a vista já era bem diferente. Uma camada enorme de poluição nos cercava enquanto o avião se preparava para pousar. O cheiro do ar já não era mais o mesmo e o tempo seco e poluído do inverno paulistano logo incomodou meu nariz, olhos e garganta. E o trânsito então? Eu já nem sei mais como aguentava pegar a Marginal ou qualquer outra via importante todos os dias para me locomover de carro aqui. Quanto carro! Quanto caminhão! Quanta moto! E quanto tempo parado no mesmo lugar! Eu sei que as estradas suíças às vezes também carregam e com certa frequência até formam congestionamentos, mas nada comparado ao trânsito louco daqui.
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| Logo após a decolagem, vista linda com os alpes ao fundo |
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| Um pouco antes do pouso em SP, que poluição! |
Passado o baque do trânsito, também me vejo preocupada com as notícias da TV. Acredito que pelo menos 80% de todas as notícias estão relacionadas com violências como assaltos, mortes e acidentes de todo tipo. Fora a corrupção toda que também acompanho da Suíça. Aí penso que só Deus mesmo pra nos guardar nessas horas, porque a vulnerabilidade e a exposição a todo esse tipo de coisa atinge a todos!
Se tratando da época de eleições, também me incomoda toda essa chatice de horário político, carros com músicas chatas e propagandas políticas sem fim, desse monte de gente que nem sabe que quer da vida, quanto mais para o futuro da cidade. E claro, a porcalhada de papéis que fica pelas ruas.
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| A cidade inteira está cheia de cavaletes de políticos, bem como carros com alto falantes e aquelas músicas insuportáveis. Quanto custa toda essa sujeirada? |
Me desacostumei também a pagar tão caro pelas coisas. Isso mesmo, e olha que a Suíça é cara hein! Mas eu fico pasma de ver o preço desde as coisas na feira até qualquer produto no mercado. Eu já não me lembrava mais que pagava tão caro nas coisas. Quer dizer, pensando bem depois, me lembrei que pagava muito mais numa compra do mês aqui do que lá (tudo bem que faço compras na Alemanha). É revoltante ver a quantidade de impostos que pagamos por qualquer produto por lá. Como somos assaltados diariamente pelo próprio país!
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| 30 reais numa Fondue! Na Suíça uma Fondue da marca Appenzeller custa cerca de 9 francos... |
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| 5 reais em 1l de suco de laranja... |
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| Essa então, sem comentários... |
Desconsiderando esses tópicos que acredito serem mais graves, me desacostumei com bastante coisa bobinha também. Por exemplo, o teclado do computador! Foi um sacrifício aprender a digitar sem pensar muito no teclado alemão, agora quando estou em outro computador lá, tenho que ler algumas vezes para acertar os erros que faço inconscientemente. Me desacostumei a jogar papel higiênico no lixinho do banheiro. Já não consigo comer muita carne, coisa que tanto eu como marido amávamos antes. Nos churrascos hoje em dia, como um pouco e já me sinto estufada.
Eu sei, parece que só tenho reclamações da terra que morei e vivi por tanto tempo. Mas é que quando a gente experimenta a qualidade de vida que a Suíça por exemplo oferece, a gente acaba ficando meio exigente mesmo. São Paulo tem lá suas coisas boas. Gosto da variedade de coisas que tenho para fazer em SP, gosto de andar no centro velho, das comidas e inúmeros restaurantes. Gosto pensar no fato de que posso comprar alguma coisa de urgência o horário que for, porque sei que algum lugar estará aberto. Às vezes gosto do ar cosmopolita da cidade, de ver a Paulista toda movimentada.
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| Guia da Veja SP enoooome com restaurantes e bares para todos |
| os gostos |
Mas descobri que tudo isso que gosto pode ser com menos frequência. Não me sinto mais obrigada a morar aqui para usufruir de tudo isso. Estou feliz de vir aqui de vez em quando e ir num restaurante japonês. Só isso já me deixa feliz, me satisfaz. Porque acho que aprendi a gostar da simplicidade suíça. Um picnic no parque ou na beira do rio com queijos, pão e uma bebida já me alegra. Não preciso mais de tantas opções. Aliás, moro tão perto de outros países, que opção é o que não me falta! Quando nos perguntam se um dia voltaremos a morar no Brasil, respondo sempre a mesma coisa. É muito cedo pra pensar nisso. Não digo nem que sim, nem que não. Só tenho certeza de uma coisa: para a cidade de SP não volto mais. Se um dia voltarmos, é para o interior. E se um dia voltarmos, é principalmente pela nossa família.
Sou grata por tudo que passei aqui, pelos lugares que andei, pelos amigos que fiz. Mas nosso tempo na cidade de SP definitivamente acabou!
