segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Basler Fasnacht


Quando chegamos aqui há um ano atrás nos deparamos com nosso primeiro carnaval suíço. É, eu achei que carnaval era só no Brasil...

Hoje começou o carnaval de Basel, o Basler Fasnacht. Diferente de outros lugares da Europa e até mesmo de outros cantões aqui na Suíça (e do Brasil também), o carnaval de Basel começa uma semana mais tarde do que todos os outros – dizem que depois da Reforma Protestante houve essa mudança, para se diferenciarem dos costumes católicos. Tanto que até dizem que o Basler Fasnacht é o único “carnaval protestante” do mundo. Embora o motivo tenha sido a Reforma, ainda me soa estranho....

Enfim, os costumes e a festa daqui são bem diferentes do nosso carnaval, apesar de eu nunca ter frequentando efetivamente um carnaval no Brasil. Aliás, eu nunca gostei do carnaval brasileiro senão pelos dias de folga (quando tinha) e pelo acampamento da igreja. Mas vamos voltar para Basel: pra começar, foi a primeira vez que vi tanta gente junta aqui em Basel, muita gente mesmo. Muitas pessoas de outros cantões vêm pra cá também. A cidade fica meio em “loucura” nesses dias, muitos turistas, muita movimentação nas ruas. Ok, mas nada comparado com o Brasil.

Aguardando o início do carnaval, com as luzes ainda
 acesas - muita gente!
O carnaval aqui dura exatamente 72 horas e começa pontualmente na segunda às 4h da manhã (chamada Morgestraich) - nem um segundo a mais, nem um a menos! As luzes da cidade são todas apagadas e exatamente às 4h as bandas começam a tocar (com flautas e baterias) e as lanternas do desfile se acendem. Essas lanternas são de dois tipos: as Zugslaterne, que são as grandes, e ficam à frente do desfile e as Kopflaterne, que são as menores e que ficam na cabeça dos participantes. Fomos na abertura do carnaval ano passado, é interessante, mas nada de extraordinário que me faça sair da cama de madrugada no frio todos os anos às 3 da manhã pra ver. Uma vez só tá de bom tamanho!


Depois dessa abertura, o carnaval prossegue até a quinta às 4h da manhã. Durante esses dias os participantes (Fasnächtler) dominam a cidade, há desfiles, ou pequenos grupos andam livres pelas ruas tocando. É muito legal estar andando na rua e se deparar com um grupinho passando e tocando.


Os desfiles são bem interessantes também, normalmente com música e um caminhão com participantes em cima, distribuindo frutas, doces e flores. Os participantes se vestem com fantasias e máscaras das mais variadas – dizem que é inapropriado um participante ser reconhecido, e por este motivo eles ficam fantasiados por inteiro durante os “desfiles”. Os temas também são os mais diferenciados – política, famosos, temas relacionados à Suíça, entre outros. Alguns blocos desfilam tocando instrumentos de percussão e flauta e são chamados de Cliquen e outros blocos tocam a Guggenmuusig, que é um pouco mais animada e lembra um pouco, bem remotamente um samba.





Uma época antes do início do carnaval, eles começam a vender um tipo de um broche, chamado Blaggedde, que tem em quatro versões com preços variáveis. Todo o dinheiro é revertido para o a organização do Fasnacht. Pois bem, o povo aqui compra mesmo o tal do broche e a partir daí, você anda com ele pendurado no seu casaco pra cima e pra baixo umas semanas antes e nos dias de carnaval. Mas o importante mesmo é usá-lo nessas 72h – você corre o risco de ser atacada por uma chuva de Räppli (confetes em Baseldeutsch) caso esteja passando por um Waggi (um “palhaço”, digamos assim) na rua e não esteja o usando. Super perigoso hahaha...

Os Waggis nos carros alegóricos, distribuindo flores,
frutas, doces e chuvas de Räppli!

Criancinhas recebendo doces :)
Pra nós é uma época diferente. Um carnaval onde crianças e idosos participam ativamente, apesar da “bagunça” e da sujeira de confetes que formam um tapete nas ruas, tudo é ainda organizado. Alguns restaurantes ficam abertos durante as 72h do evento, não posso ser hipócrita e dizer que não tem gente bêbada e coisa e tal, mas tá longe de ter alguma comparação ao carnaval brasileiro. Não é à toa que muitos dizem por aqui que o Basler Fasnacht são os “die dreei schenschte Dägg” (die drei schönsten Tag – viu que dialeto mais lindinho que tenho que aprender também?!). É, para o povo aqui são os três dias mais bonitos!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Há um ano atrás

Guardo na memória como se fosse hoje nosso último dia no Brasil.... Último almoço com a família, a correria de fechar todas as malas e acertar os últimos detalhes com nossa mudança, um brinde com champagne lá mesmo no apê com a família e alguns amigos e por fim a última olhada em tudo, um abraço no marido e a porta sendo fechada, deixando o apartamento lá, todo mobiliado, como se fôssemos voltar em breve. Despedidas são sempre difíceis.

Com aquela porta fechada abrimos outra. Há um ano atrás chegávamos aqui na Suíça, todo aquele sonho que tínhamos em morar fora do Brasil finalmente tinha se tornado realidade e muito mais além do que imaginamos que seria um dia. Lembro de cada detalhe, a chegada em Zurique, o friozinho que estava, a viagem de trem até Basel com aquele monte de malas e a alegria e o deslumbre de ver tudo aquilo de novo e saber que agora não seria só uma viagem, mas a construção de uma nova vida.

Fevereiro 2011
Como passou rápido! E quantas e quantas coisas não aprendemos nesse ano aqui... Acredito que tão importante quanto o aprendizado da nova língua, é também a viver e tentar se inserir na cultura. Creio que adquirimos ao longo desse tempo maturidade, aqui aprendemos a nos virar sozinhos, pois além de estarmos longe da família e dos amigos, estamos também lidando com outra cultura. Cultura essa que será sempre um aprendizado!

Março 2011
Aprendemos a lidar com a dor das despedidas e a saudade, tendo sempre em mente a alegria dos próximos reencontros.

Aprendemos sobre outras culturas além da suíça. Isso abre nossa mente, entrar em contato com pessoas que nunca imaginamos existir, com outras vidas, outras histórias. O fato de conhecer outras culturas ainda me fascina!

Como consequência disso, aprendemos a mudar e a moldar nossos valores – coisas pelas quais antes dávamos importância, hoje não têm mais valor. Posso ser sincera em dizer que muitas vezes no Brasil demos valor a coisas materiais e aqui nos desapegamos disso. Queremos é ter boas lembranças e recordações pelos lugares que passamos e das pessoas que conhecemos.

Aprendemos que nem tudo são sempre rosas. Embora a vida aqui seja muito boa, viver em outro país às vezes exige disposição e paciência. Porque aqui aprendemos a recomeçar a vida do zero. Desde a mudança para nosso apartamento, até o estudo da língua, a procura de um emprego na minha área, a descoberta de como tudo funciona... Os pequenos detalhes mesmo, leis de trânsito, o sistema de saúde, os milhões de seguros que temos que fazer. Tudo novo para nós!

Abril 2011


Aprendemos a dar mais valor ainda a nossa família. Já deu pra perceber que esse tema é de grande importância para nós e sempre foi. Nossas famílias são super unidas e isso nos faz uma falta enorme. Tivemos a alegria de receber nossos pais e minha irmã e sua família aqui e foi uma experiência única! No Brasil sempre estávamos juntos, mas sempre com mais pessoas. Aqui não, pudemos curtir cada segundinho ao lado de cada um deles. E definitivamente isso nos aproximou ainda mais.

Maio 2011
Aprendemos a estar mais perto de Deus. Embora a igreja que frequentávamos no Brasil tivesse mais recursos em termos de grupos, estudos, etc, aqui aprendemos a nos relacionar mais de perto com Ele. Isso sem dúvida é a maior e melhor experiência.

Junho 2011
Meu desejo para os próximos anos aqui... Nunca perder a alegria e o deslumbre de ver as coisas boas e bonitas que temos aqui, mas também nunca deixarmos de ser realistas... Continuarmos com força e determinação em busca daquilo que queremos, mesmo que os caminhos sejam mais difíceis... Conhecer outros lugares, outras culturas, outras pessoas... Mas acima de tudo, desejamos poder fazer a diferença da vida daqueles que conhecermos. Falar Daquele que nos dá forças, nunca nos faz sentir sozinhos e enche o nosso coração de paz e alegria todos os dias. Se estamos aqui hoje, não tenho dúvidas, é pela vontade de Deus.

Julho 2011
Agosto 2011
Agosto 2011
Setembro 2011
Outubro 2011
Novembro 2011


Janeiro 2012
Fevereiro 2012
Pensando hoje em tudo que se passou, sinto meu coração cheio de gratidão e alegria. Cada passo dado, cada vitória conquistada, cada obstáculo, tudo foi e é muito gratificante. Só podemos agradecer a Deus por tudo. E que venham os próximos anos!




domingo, 12 de fevereiro de 2012

Aprendendo com o inverno


Bom, o inverno que muita gente por aqui disse que não havia tido até então chegou há um tempo e se mantém. Com temperaturas bem congelantes, diga-se de passagem. Eu particularmente gosto dessa estação, mas confesso que com nosso primeiro inverno aqui, aprendemos e tivemos que nos adaptar a muitas coisas novas pra nós:

ü  Neve é linda! Nos primeiros dias. Principalmente em cidades maiores, onde há maior circulação de carros, aquela coisinha branquinha bonitinha se torna uma meleca escura que fica nas guias das calçadas. Eca!

ü  As ruas e carros continuam brancos – não por conta da neve, mas sim pelo sal que jogam depois da neve, pra derretê-la das ruas. Com isso, as ruas e os carros ficam esbranquiçados e o piso de onde quer que você pise de meleca de neve com sal suja.

ü  A neve “pisada” nas calçadas aliada às temperaturas negativas formam um gelinho mortal. Escorregam absurdos e qualquer falta de atenção é tombo na certa.

ü  Plantas congeladas – minha mini horta da sacada que tem um sistema de abastecimento de água tipo lençol freático congelou inteira. As coitadas já estavam sequinhas há um tempo, mas espero que ressuscitem.

ü   Nunca deixe produtos de limpeza no armário da sacada. Todos também congelaram.

ü  Acorde mais cedo se vai sair de carro – provavelmente seu vidro estará congelado e você terá que raspar o gelo para ter visibilidade. A água do pára-brisas também congela – para isso, tem um produto apropriado que “aguenta” até -20 graus.  E atenção redobrada no trânsito!

Pois é! O inverno ainda não terminou, as temperaturas ainda prometem até pelo menos o final dessa semana e sim, tenho certeza que ainda temos muuuuito a aprender. Mesmo assim, continuo amando o frio com céu e sol azul lindo que muitas vezes o inverno nos dá!


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Até que a morte os separe?


Parece até uma frase bem fora da moda nos dias de hoje né? Vira e mexe os assuntos do curso de alemão me fazem pensar em muita coisa. Essa semana falamos sobre casais, vida conjugal e etc. A partir daí, constatei algumas coisas: muitos casais aqui não se casam de verdade, porque os impostos são mais altos para pessoas casadas, então preferem viver juntos, porém solteiros; sei que no Brasil também é assim, mas aqui muita gente dá mais valor pra carreira, isso pra mim se tornou mais perceptível aqui – hoje mesmo ouvi uma história de um casal que trabalhava tanto, que quando ficavam juntos por muito tempo, brigavam; minha professora me falou de uma pesquisa que diz que a maior incidência de separações ocorre em feriados prolongados, que é quando os casais passam mais tempos juntos; e por último, mas não menos importante, é o valor que as pessoas passam a dar para um casamento (não digo só daqui, acho que é um fenômeno mundial). Sim, porque quando falo para as pessoas que acredito que um casamento é pra sempre, me olham torto. A impressão que tenho é que pensam: “Nossa, tão nova, mas ao mesmo tempo tão ultrapassada!”. Afinal de contas, é muito fácil né, não deu certo, tchau e benção e bola pra frente pra mais um relacionamento egoísta.


 É isso mesmo. Me desculpem os mais modernos, mas sou mesmo uma quadrada. Pra mim, é mais simples: “...De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou, não separe o homem ” (Mt 19:6). E ponto final. Casamento é além de tudo, um compromisso também firmado com Deus. Sei que existem inúmeros tipos de relacionamentos, as mais variadas dificuldades e não estou aqui pra julgar ninguém, só quero poder dar minha opinião sem parecer uma estranha ou uma louca. Não estou dizendo que é fácil conviver com alguém, nunca brigar ou coisa assim, existe um leque de variáveis que molda uma vida a dois. Viver um relacionamento requer paciência, amor, companheirismo e acima de tudo, abdicar de todo seu egoísmo e orgulho próprio.  Mesmo aquele egoísmo mais sutil, aquele quase imperceptível. É uma tarefa diária, um trabalho árduo, mas a própria Bíblia nos ensina a amarmos nosso cônjuge mais do que a nós mesmos. A partir do momento que pensamos primeiro no bem-estar do outro e depois no nosso e isso se torna recíproco, o relacionamento atinge uma certa  maturidade e conviver com o outro se torna tão bom!

Esse é só o primeiro passo de tantos outros que temos que dar. Estar com alguém, afinal de contas exige disposição! Quando damos prioridade para tantas outras coisas que julgamos ser mais importantes, seja trabalho, estudos, coisas materiais, tudo se torna mais difícil. “O amor acaba”, como tanta gente fala por aí. Ele não acaba, ele só enfraquece. Ele precisa ser alimentado todos os dias, de vez em quando renovado. E é nisso que acredito. Que o amor se renova, assim como a árvore com suas folhas novas depois do longo e rigoroso inverno. Não posso acreditar que um pacto firmado por Deus acabe assim, sem mais nem menos. Ele nos ama e se alegra em ver famílias unidas, foi criação Dele. E esse é o meu desejo. Que as pessoas aprendam a buscar mais de Deus em suas vidas e em suas famílias. Amamos incondicionalmente nossa família lá no Brasil. Meu marido e eu já somos uma família. Queremos ter filhos e netos. E a minha resposta para aquela pergunta do título? Sim, estou com ele até que a morte nos separe.