quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Da simplicidade suíça



 Nessas últimas semanas, assim como ano passado, tivemos a feira de outono de Basel, a Basler Herbst Messe. Como no ano passado, a feira foi praticamente a mesma – mesmas barraquinhas de brincadeiras, mesmos brinquedos, mesma comida. Tudo no mesmo lugar que estava ano passado. Foi muito legal ir pela primeira vez ano passado e relembrar de algumas coisas das quermesses e festas juninas que ia no Brasil. Esse ano, no canal de TV de Basel, vi algumas reportagens lá na feira. Fomos este ano também, umas duas vezes. Passear pelas praças onde as feiras estavam e ver toda aquela gente se divertindo, comendo, brincando com a família, indo nos brinquedos e tal me fez pensar em como as pessoas aqui são mais simples quando se fala em felicidade. 


Não sei se o brasileiro tem se tornado mais consumista nos últimos anos, mas tenho a impressão de que depois que conseguimos algo, sempre queremos alcançar logo outra coisa pra sermos “completamente” felizes. Sei lá, tipo uma falsa impressão de que se não tivermos aquilo, não seremos completos. Não to dizendo que não tá certo almejarmos aquilo que queremos, mas o que tá em questão aqui é essa ânsia desesperada de sempre querer mais e mais e basear a sua felicidade nisso. Conheço poucos suíços, mas gosto muito de observar na rua as atitudes, os gestos. Por exemplo, nessa feira de outono. Vejo que todo ano parece ser a mesma coisa, mas ainda assim eles se contentam com as mesmices e tem o maior orgulho de frequentar a feirinha. Mesmo durante o dia, estão sempre cheias. Além disso, é tudo tão simples, uma brincadeira de atirar bolas na lata pra ganhar um bichinho de pelúcia por exemplo. Acho que o que estou querendo dizer é que as coisas materiais não tem muito valor, sabe. Um suíço não tá muito interessado em saber qual é a marca do seu sapato e quantos pares você tem.  Para ele, basta pouca coisa, desde que tenha qualidade. Não vejo o povo daqui como consumista. Vejo como um povo que gosta de aproveitar a vida, inclusive nos pequenos detalhes. E esses pequenos detalhes também os fazem felizes. Eu sei que tem o outro lado da história, a Suíça é um dos países com maior índice de suicídio, taxas altas de depressão e tal e eu acredito que as motivações (se é que tem motivação pra cometer suicídio) para tudo isso são outras. 



Tenho mudado muito meu jeito de viver aqui, principalmente nesse quesito contentamento. Não to querendo dizer também que não gosto de comprar uma roupa nova, de ver as coisas da moda, afinal de contas ainda sou mulherzinha :) O negócio é o valor que se dá para isso. Aliás, como disse na outra vez, eles gastam um dinheirinho bom nessas feiras, mas é o momento com a família, com os amigos, seja brincando, seja comendo uma salsicha... É isso que tem valor. O momento. E é isso que eu tenho aprendido. A dar valor para o momento, para as memórias, para as viagens. Para aquilo que eu possa deixar registrado na minha memória, que me deixe feliz sempre que lembrar. O resto passa e se apegar a coisas materiais é um sofrimento desnecessário!
Agora a feirinha de outono já acabou e a mesma feirinha de Natal do ano passado já está sendo preparada pelas praças espalhadas na cidade :) 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O que me preocupa

 Antes de morar aqui, marido e eu sempre tivemos o desejo de morar fora do Brasil, (inicialmente o plano era o Canadá!), por diversos motivos - qualidade de vida principalmente. E essa qualidade para nós quer dizer um monte de coisas como tranquilidade, menos trânsito, qualidade dos serviços públicos, segurança. Nada me incomodava mais em SP do que pegar um trânsito enorme numa avenida e enquanto estava lá parada, escutar no rádio o cuidado que precisava ter para evitar um assalto, bem ali mesmo, no meio da rua. Quantas vezes não escutei notícia assim, e quantas não tiveram um final trágico. Me dava muita raiva pensar no fato de que eu, uma cidadã que pagava todos meus impostos em dia, trabalhava, estudava e dava um duro danado pra tudo isso tinha que abdicar da minha liberdade de ir e vir, de usar o que eu quisesse em nome da segurança. Quantas vezes não escutei um caso de alguém que foi roubado e que um terceiro dizia: “Também, tinha que estar com um relógio dessa marca na rua?” Pô, o sujeito se mata pra comprar e usufruir de algo que lhe agrada, é assaltado e ainda tem que escutar uma dessas. Infelizmente a gente acaba se tornando refém dessa criminalidade toda. Então quando surgiu a proposta de morarmos aqui, com certeza o ponto “segurança” foi de muito valor.

O negócio é que ultimamente as notícias tem me preocupado mais e mais. Os ataques violentos em SP, terra onde morava, tem se tornado mais frequentes, fruto de uma “guerra” entre polícia e bandido. Só que essa guerra tem atingido muitos inocentes. Essa semana vi uma reportagem que me deixou chocada: em menos de 20 dias, mais de 130 pessoas morreram, decorrentes desses ataques. Teve um dia que num período de 17h, quinze pessoas morreram. Isso mesmo, quinze. Quase uma pessoa por hora, e em sua grande maioria cidadãos que foram pegos de surpresa, andando na rua e que foram assassinadas por criminosos em cima de uma moto, que logo depois fugiram, sem deixar qualquer vestígio. Eu me lembro quando vi pela primeira vez num jornal um vídeo de uma pessoa sendo assassinada, e a jornalista alertando que as cenas que viriam a seguir seriam fortes. Hoje vira e mexe aparece uma reportagem dessas e o negócio virou tão banal que eu tenho a impressão às vezes de que isso quase não deixa mais ninguém impressionado ou comovido. E aí eu me pergunto... O que aconteceu com os valores humanos? Em que parte deixamos de dar valor pra vida desse jeito? Porque se antes uma pessoa era morta em um assalto porque reagia, hoje só basta estar andando na rua pra ser a próxima vítima. Eu não consigo entender o que há de errado com a raça humana. Nem animal faz isso com um mesmo de sua raça! Quando a gente vê notícias de roubos, assaltos em outros países tipo EUA ou até aqui mesmo na Suíça, eu tenho a impressão de que os bandidos “estrangeiros”, ainda que criminosos, dão um pouquinho mais de valor pra vida. O que aconteceu no Brasil, minha gente? Porque meu povo, minha nação, minha terra tem se tornado tão indiferente diante desses fatos? O que aconteceu com esses criminosos para perderem tanto assim o valor pela vida?



Eu não consigo encontrar resposta pra nenhuma dessas indagações. Eu sei que o problema é mais lá no fundo, que envolve vários aspectos como educação, condições extremas de pobreza, tráfico de drogas e tal. Mas não entra na minha cabeça esse desrespeito todo a vida. O sentimento que tivemos das últimas vezes que voltamos para SP de medo e insegurança se tornou muito pior do que quando morávamos lá... Não tem um dia sequer que eu deixe de pedir pra Deus que proteja nossa família lá, nossos amigos. Porque a gente nunca acha que vai acontecer com a gente, mas infelizmente está mais perto do que se imagina. Que Deus tenha misericórdia da nossa nação.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Uma noite asiática

Sempre gostei de comidas, cozinhar, aprender a fazer coisas novas e tal. Lá no Brasil, tínhamos o costume de fazer algum tipo de noite temática com a família, por exemplo, noite mexicana, árabe, de pizzas e por aí vai.
                                                                                                                   No último passeio que fizemos nos lagos com nossos amigos, entre uma conversa e outra sobre comida, resolvemos fazer essa noite asiática. Tinha que ser asiática e não apenas japonesa (comida que eu amo!), porque algumas pessoas não comiam a comida japonesa, então pra dar uma incrementada, colocamos o Yakissoba, que é chinês. Assim, se tornou uma noite asiática.

Pra começar que nós não tínhamos ideia do que fazer e muito menos como fazer. Yakissoba já tinha feito uma vez com outra amiga que me ensinou e não seria problema. O negócio era o sushi. Graças a Deus temos acesso a praticamente tudo nessa vida pela internet, então elaboramos um cardápio:

Cozinha japonesa: sushi (salmão, kani e pepino), temaki (salmão, cream cheese e cebolinha), shitake na manteiga (maaaaaravilhoso!) e palitinhos de salmão assados com gergelim. 
Cozinha chinesa: yakissoba de carne, frango e legumes.

Cardápio decidido, ingredientes anotados, hora da compra. Aqui em Basel tem uma quantidade razoável desses mercadinhos de indianos e asiáticos, além do mercado grande na Alemanha que normalmente vamos, então comprar os ingredientes não foi um problema e tampouco saiu caro, se comparado a uma compra dessas no Brasil (em SP, no meu caso).



Mais uma vez, hora de aprender a enrolar os sushis e temakis – créditos para os vídeos do Youtube :P É uma habilidade a ser desenvolvida, mas depois de algumas tentativas, o negócio saiu! Que orgulho, nunca achei que fosse fazer um sushi! Dizem que o ideal é o homem fazer o sushi, porque a mulher na época pré-menstruação fica com a mão mais quente e isso atrapalha na qualidade e montagem dessas especiarias. Mas nada que um potinho com água geladinha ao lado para molhar as mãos não ajudasse.


Adicionando o tempero que vai no arroz de sushi

Colocando o arroz na folha de alga (nori)

Recheando o sushi...

Enrolando...
Quase pronto!
Que orgulho! Ficou ótimo!


  
Pensei em compartilhar as receitas aqui, mas achei que ficaria muito extenso, então como a maioria das receitas são relativamente fáceis de encontrar na net,  deixo aqui a receita do Yakissoba, ensinado por uma amiga de descendência oriental.

O marido também entrou na brincadeira!

YAKISSOBA

- 1 pacote de macarrão para yakissoba (parece um macarrão instantâneo)
- Óleo de gergelim torrado (é o que faz toda a diferença!)
- Shoyu
- Carne ou frango em tirinhas
- Metade de um brócolis e metade de um couve-flor (em pequenos pedaços)
- 02 cenouras médias (cortada em palitinhos)
- 02 cebolas médias (cortada em seis partes longitudinais)
- Gergelim

Numa panela grande (ou wok, a panela própria de yakissoba), aqueça o óleo de gergelim com as cebolas e frite até que fiquem douradas. Acrescente as cenouras cruas e frite mais um pouco. Quando as cenouras estiverem um pouco mais moles (pouca coisa, elas ficam crocantes mesmo), acrescente o brócolis e a couve-flor, também cruas. Enquanto elas cozinham um pouco, frite a parte em outra panela as carnes com óleo de gergelim também. Quando já estiverem no ponto, junte com os legumes. Cozinhe a massa em água fervente por volta de 3 minutos apenas (ela não pode ficar mole), escorra e na panela que fritou a carne, frite também o macarrão com um pouco de óleo de gergelim. Acrescente a massa junto as carnes e legumes e acrescente o shoyu (para essa quantidade, cerca de 100ml de shoyu – vai a gosto do freguês, se gosta do sabor do shoyu mais acentuado ou não) e cozinhe toda a mistura mais um pouco, mas não por muito tempo, para que a massa não absorva muito o shoyu e fique muito salgado. Salpique com gergelim para que fique crocante. Sirva ainda quente.

Se quiser, pode acrescentar legumes de sua preferência. Não é necessário temperar com mais nada, o shoyu e o óleo de gergelim torrado são suficientes.

Sushis e temakis
Palitinhos de salmão assado com gergelim
  Sushis


Shitake na manteiga
Yakissoba
E voilà! Nossa mesa estava pronta para ser saboreada com tanta coisa boa :9

 

En gueta!






















quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mudanças climáticas x Mudanças de humor x Gratidão



Tinha pensado em colocar o título como mudanças climáticas vs. mudanças fisiológicas e de humor, mas quando terminei de escrever, percebi que o texto tomou um rumo um pouco diferente. O negócio é o seguinte: eu adoro o outono, já disse aqui que é uma das minhas épocas preferidas, gosto do clima ameno, da paisagem, da necessidade de não se empacotar inteira pra sair, e por aí vai. Mas assim como no ano passado, vai chegando uma época do outono (digamos que um início de transição pro inverno) em que sinto muita coisa mudar no meu corpo. É meio que essa época agora que estamos passando. O frio vai aumentando um pouquinho mais, e como ele é contínuo, minha pele começa a sofrer. Sinto que ela fica super ressecada,  especialmente nas partes que fica exposta ao tempo frio, como mãos, rosto e lábios. Costumo normalmente usar um creme hidratante no corpo e na face, mas nessa época tenho que intensificar mais o cuidado, porque senão não tem pele que aguente....

Mas o que mais me incomoda mesmo nessa época é meu humor que muda drasticamente. Não sei o que acontece! Sinto muito sono, desmotivada pra fazer as coisas, algumas vezes triste... Será que é só comigo? Talvez algumas coisas também contribuam pra todo esse humor melancólico, como as viagens constantes do marido (fico sempre sozinha em casa) e a espera do reconhecimento do diploma (que já deveria ter saído). Nem pra escrever no blog tenho tido muita inspiração e vontade...

Eu não gosto de gente que vive reclamando da vida e nem quero reclamar. Acho que temos sempre que sermos muito agradecidos por tudo que temos. Mas essa época é um pouco difícil pra mim. O jeito é dar um jeito nessa desmotivação toda e procurar sempre alguma atividade pra fazer. Nem que seja dar uma volta na cidade, se forçar a fazer um bolo, ler um livro. E por que não parar para pensar e agradecer também? Acho que gratidão é um exercício motivador, nos ajuda a lembrar tudo aquilo que temos (e muitas vezes nem merecemos!)


“Todo o nosso descontentamento por aquilo que nos falta procede da nossa falta de gratidão por aquilo que temos.”  (Daniel Defoe)

Resumindo... Apesar do desânimo de vez em quando e da incerteza das coisas e do futuro, acredito que ser e aprender a ser grato tornam a nossa vida mais doce e mais leve, mesmo que os dias estejam cinzas e escuros. Eu tenho muito o que agradecer! E você?