Sempre me perguntava como
seria ser enfermeira em outro país. Talvez esse tema não tenha a atenção de
muita gente por aqui, afinal, qual a porcentagem de gente no mundo que quer
saber o papel da enfermagem na Suíça né.... Mas é o mundo que eu vivi lá no
Brasil e que vivo agora aqui.
Pra começar que para atuar
como enfermeira no Brasil, é preciso cursar uma universidade por quatro anos.
Nos primeiros anos, mais teoria, nos últimos anos, mais prática. Não só em uma
área, em várias: saúde do adulto, da mulher, criança, idoso, saúde pública, e
assim vai. Terminamos a graduação com uma visão geral da saúde em seus diversos
segmentos. Além disso fomos muito treinados para fazer pesquisas na área de
saúde, elaborar artigos científicos por exemplo. Na área hospitalar, somos
capacitados a elaborar e prescrever um plano de cuidados de enfermagem. Não
acho de forma alguma que estamos subordinados ao médico. Temos respaldo e
autonomia para realizar nosso trabalho e creio que somos um time
multidisciplinar e que se complementa. Enfim, a gama de opções de trabalho para
um enfermeiro é enorme. Essa é a minha experiência pessoal no campo de formação
de enfermeiros, na faculdade que eu fiz. Sei também que existem muitos cursos
de enfermagem que deixam a desejar. Nem preciso falar da vergonha de ouvir com
certa frequência notícias de erros absurdos que acabam por tirar a vida de um
paciente. Mas isso também já é outro assunto e muito mais complexo, que envolve
além da formação, condições de trabalho.
E como é a coisa na Suíça...
Aqui enfermagem não é nível universitário. Eles estudam três anos, sendo que,
bem parecido no Brasil, no último ano eles estão mais no estágio do que em sala
de aula. Porém, já no último ano, eles recebem um salário de estágiário e fazem
parte da escala e dos turnos de trabalho.Os estágios deles não são em todas as
áreas. Por exemplo, lá no setor que estou, tem uma estagiária do primeiro ano,
que ficará conosco até o final do terceiro ano. Nesse ponto, prefiro a formação
brasileira, mais generalista e com a visão do todo. Senão, como se decidir se
você realmente gosta e quer trabalhar com adulto ou criança, por exemplo?
Não sei como é a formação
deles, mas acho que eles ainda são muito mais pautados num modelo biomédico,
naquela coisa de saúde e doença do que ver o ser humano como um todo, por
exemplo, na esfera social. Pelo que já vivenciei também, há uma certa
autonomia, mas ainda muito ligados ao médico. Não há saúde pública por aqui.
Sendo assim, a maioria dos enfermeiros estão inseridos nos hospitais e asilos.
O leque de opções aqui é mais fechado.
As escalas são um negócio
muito louco! Aliás, depois de conversar com os colegas do curso, acho que só no
Brasil temos o esquema de 6x1 ou 12x36.
Aqui, enfermeiro trabalha 8h e 24 min (isso mesmo, 24 min) por dia e tem duas
folgas na semana. Nada de 6h diárias. O que quer dizer que os horários também
são malucos. Basicamente há três turnos: das 7h às 16h, das 13h às 22h e das
21:30 às 7:30h. E não há turno fixo. Eu tenho que trabalhar em todos esses
turnos. Não gosto e nem me acostumei muito com isso, prefiro ter uma rotina
estabelecida. E nada de dois empregos, como no Brasil né! Normalmente, se
trabalha dois finais de semana (sábado e domingo) e folga dois. O que não é
ruim não. No Brasil, normalmente era só um final de semana livre.
Férias também é um negócio
bom: 25 dias úteis (úteis minha gente!), e não precisa ser necessariamente
tirada em duas partes. Se eu quiser uma sexta de férias por exemplo, eu posso.
Depois mais uma semana em outro mês, tudo bem também. Essa flexibilidade eu
gosto :-)
Outro ponto bom aqui é que
acho a enfermagem menos (ou nada) futriqueira. O pessoal se dá bem, nunca
percebi muita fofoca e se ajuda bastante também. Sempre tem uma pausa junto com
os colegas e no final do turno uma mini reunião pra dar um feedback do dia. Os
pacientes aqui dão uma "caixinha" na alta e o dinheiro vai para um
cofrinho do time (ó só como já estou 'alemanizando' as palavras hahaha, quis
dizer equipe), que é usado para fazer um café, comprar algo pra todos. Achei
isso mega interessante, uma vez que nos aproxima mais.
Tô aprendendo também a ver a
profissão como um meio de sobreviver e não viver pelo trabalho. Eu acho que europeu
no geral é assim. Nada de levar trabalho ou preocupações para casa. Acabou seu
turno, hora de descansar. Gosto disso, dessa coisa de prezar pela qualidade de
vida.
Aos poucos e com o tempo,
estou aprendendo a ter e atuar com outra visão de enfermeira. Não sei ainda o
que mais agrada. Talvez as duas enfermagens se complementem!