Virando voluntária

Estou vivenciando uma experiência completamente nova pra mim aqui na Suíça. Eu sabia que ir somente à escola de alemão, mesmo que diariamente não iria dar o upgrade que eu queria e a fluência que eu tanto sonho pra poder voltar a trabalhar na minha área. Óbvio que para isso eu também preciso da aprovação da Cruz Vermelha Suíça, da qual estou aguardando o retorno pra saber se meu diploma poderá ser validado ou se terei que fazer alguma equivalência. Enfim, conversando com uma amiga da igreja e falando dessa minha necessidade, surgiu a idéia do voluntariado, já que ela trabalha em um tipo de “asilo-hospital” e poderia falar com o chefe dela. Fiz uma entrevista com ele, aos trancos e barrancos em alemão e terminando em inglês e ele concordou com o serviço. Acho incrível a velocidade de pensamentos que passa pela minha cabeça, às vezes me vejo naqueles desenhos que tem um anjinho e um diabinho falando em cada orelha... O diabinho falando: “poxa vida, você se dedicou tanto nesses 4 anos de estudo, investiu, trabalhou, e agora que você podia usufruir de tudo isso, estar fazendo uma pós... você vai ter que trabalhar como voluntária?!” E o anjinho: “parabéns Larissa, oportunidade melhor não podia ter pra desenvolver seu alemão, essa com certeza será a melhor escola que freqüentará aí; tenho certeza que em breve estará falando!” Às vezes me sinto uma bipolar rsrsrs...

Mas.... Procuro sempre ver o copo de água cheio, e enxergar tudo isso como um presente de Deus, sei que Ele nunca me colocaria num lugar que não fosse da vontade Dele. Então, se e assim... Vamos encarar!

Vou falar a verdade, nunca senti tanto medo como no primeiro dia, que aliás foi ontem. Uma coisa é iniciar um trabalho novo onde você pode se comunicar, dar seu ponto de vista, se justificar de algo.... Outra é cair de gaiato num país, serviços e língua dos quais não estou nem um pouco habituada. O chefe me apresentou o local e às enfermeiras e técnicos com quem vou ficar. Uma enfermeira é indiana, que já mora aqui há 10 anos; outra ainda não descobri. Pelo que pude ver, o trabalho é um pouco diferente do que no Brasil, quase não vi contato delas com os pacientes. Enfim... Posso dizer que entendo 70% do que falam em Hochdeutsch e uns 40% só em Schweizerdeutsch. Ô dialeto chato que tá aí só pra complicar! Mas diria que entender ainda não é o problema, entendo umas palavras soltas e descubro o contexto. O pior mesmo é falar, principalmente com alguns termos específicos da área; logo que cheguei em casa procurei no dicionário alguns termos básicos pra me sentir mais respaldada. O que dificulta mais ainda é essa vergonha que sei lá de onde sai que eu sinto! De falar errado, perguntar errado, quando falo alguma coisa e falam: “hã?”... Quando isso vai passar hein?!

É um pouco engraçado também tentar a comunicação com os velhinhos, porque a maioria fala o dialeto, com voz baixa e às vezes com uma vozinha de banguelinhas que abafa todo o som que sai da boca deles... Hahahah só rindo mesmo! Mas já no primeiro dia entendi o chá que uma idosinha havia pedido, entreguei a ela, que me agradeceu e até me deu um chocolate!

É isso aí... Sei que o começo não está sendo nada fácil e nem será pelas próximas semanas (ou meses?), mas estou pedindo a Deus todos os dias disposição, força e paciência pra enfrentar de frente esse desafio e sei que Ele me dará. Afinal, quero SIM usar tudo que sei como enfermeira aqui pra ajudar todos que eu puder!

Amém!